
Do dormir, sem sonhar que, extremo, nos invade, Em meu leito de morte ondule, Esquecimento, De teu sutil adejo a langue suavidade!
Não quero ver ninguém ao pé de mim carpindo, Herdeiros, espreitando o meu supremo anseio; Mulher, que, por decoro, a coma desparzindo, Sinta ou finja que a dor lhe estará rasgando o seio.
Desejo ir em silêncio ao fúnebre jazigo, Sem luto oficial, sem préstito faustoso. Receio a placidez quebrar de um peito amigo, Ou furtar-lhe, sequer, um breve espaço ao gozo.
Só amor logrará (se nobre à dor se esquive, E consiga, no lance, inúteis ais calar), No que se vai finar, na que lhe sobrevive, Pela vez derradeira, o seu poder mostrar.
Feliz se essas feições, gentis, sempre serenas, Contemplasse, até vir a triste despedida! Esquecendo, talvez, as infligidas penas, Pudera a própria Dor sorrir-te, alma querida.
Ah! Se o alento vital se nos afrouxa, inerte, A mulher para nós contrai o coração! Iludem-nos na vida as lágrimas, que verte, E agravam ao que expira a mágoa e enervação.
Praz-me que a sós me fira o golpe inevitável, Sem que me siga adeus, ou ai desolador. Muita vida há ceifado a morte inexorável Com fugaz sofrimento, ou sem nenhuma dor.
Morrer! Alhures ir… Aonde? Ao paradeiro Para o qual tudo foi e onde tudo irá ter! Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro Que abrolhasse à existência e ao vivo padecer!…
Contadas do viver as horas de ventura E as que, isentas da dor, do mundo hajam corrido, Em qualquer condição, a humana criatura Dirá: “Melhor me fora o nunca haver nascido!”
Extraído do site: Garganta da Serpente Tradução de João Cardoso de Menezes e Souza
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